Os blogs podem ter morrido — eu não! Talvez apenas um pouco.
Talvez por tédio. Talvez por enjoo. Muito
por desânimo. Dizem que as redes sociais mataram os blogs, mas é mentira. As
redes sociais estão a caminho de matar toda a internet, não apenas os blogs. Há
mais de duas décadas, quando a gente montava um blog, abria a vida, montava um
diário online, falava das coisas que nos encantavam, fazia busca em blogs alheios,
conhecia gente, fazia “amizades virtuais”. Depois das redes sociais isso não
acontece mais. Nossos textinhos deram lugar a textões — não há mais espaço para
conversa, estamos todos apenas tentando ter razão.
Muito do que eu penso em escrever morre em um de dois filtros: medo e relevância (quando não apanha na cara dos dois). Às vezes você pensa em desabafar, se abrir — mas o efeito das redes sociais traz o filtro do medo: “Será que vai aparecer alguém por aqui querendo problematizar que eu não gosto de café com leite” — alguém que vai me dizer que essa é a escolha de uma pessoa privilegiada, que estou querendo fazer pouco do café da manhã de 90% dos brasileiros ou dizendo que isso é muito pouco nos esforços para a causa animal, aquecimento global ou qualquer coisa do gênero? Tenho ânimo para lidar com isso? Não sou Clarice, não sou Lygia. Não escrevo aqui por que sou paga — na maior parte das vezes, escrevo apenas porque não posso evitar. Porque meu diário é um suspiro e não um grito; e às vezes é preciso gritar — mesmo que para o vazio, sem direito a eco.
Já o filtro da relevância traz para perto, cada vez mais, a
sensação de ser um grão de areia no mundo. “Sério que depois de uma pandemia, mortes,
fome, desgaste político, crise de trabalho e afins você quer que alguém pare e
pense na sua melancolia provocada por séries de design nos serviços de
streaming?”. Não sei se quero... Mas sei que é o que tenho para hoje. Não tenho
nada a acrescentar em um mundo cada vez mais focado nas coisas grandes. Em bilionários
que querem dar uma volta no espaço (a despeito das toneladas de gases tóxicos
que despejam na atmosfera de alguém que, como eu, há 12 anos não vê o mar). Que
querem comprar redes sociais em dinheiro. Ou que tramam golpes de estado para
conseguir lítio mais barato (estaria eu de provocação com o mesmo inteligentíssimo
bilionário que é no fundo, um grande idiota?).
O meu lugar é pequeno. O meu lugar é contido — ele se preocupa
com as contas do mês que estão para pagar. Em como colocarei a casa em
ordem em um apartamento pequeno, com um marido, filha, sete gatos e um jabuti.
Daqui eu me preocupo com a pilha de livros que quero ler, com pilha de papéis
que quero rabiscar — em assistir o último filme de super-heróis feito por alguém
que na infância, assim como eu, colocava uma capa nas costas e fingia ter superpoderes.
Não vou, muito provavelmente, "colocar uma marca no universo" — me dou por satisfeita
em encher de vincos a minha própria vida, e das pessoas ao redor. Saber que no
final, eu vivi, gastei minha cota, não me guardei para mais tarde enquanto a vida acabou.