Sabe qual a minha principal dificuldade em encontrar meu lugar nesse mundo cibernético dos produtores de conteúdo visual (coisas que você diz quando não sabe se quer ilustrar, ser retratista, animadora, sketcher regular ou simplesmente vender rabiscos na praça da república)? Encontrar "minha turma", ou pelo menos uma "turma possível".
Tenho começado a acompanhar o trabalho de diversas ilustradoras nesses últimos meses e... Fico pensando se eu posso -- ou deveria ter -- qualquer coisa parecida com essas garotas. Todas muito competentes, com trabalhos que me fazem babar, mas... Como eu já disse para uma amiga, muitos "arco-íris e unicórnios" para mim! Todas uns 10 anos mais jovens é claro (e isso, é claro, explica muita coisa), mas nessas vidas de baladinhas cool ( como "vamos encontrar os amigos pra beber cerveja artesanal e desenhar bailarinas de hula ao som de covers do Queen em ukele"), ambientes floridos e altamente customizados que parecem boards dos sonhos de pinterest, com jeitos leves, sapatilhas, vestidos de laise e cambraia, óculos grossos, muitos gatos e vasos e vasos de suculentas -- não sei se toda a minha descrição foi capaz de colocar você nesse mundo, mas é isso.
Eu não sou assim. E acho que eu jamais poderia ter sido assim. Não faz parte do meu DNA -- que pode mesmo ser considerado quadrado, nerd, bizarro ou seja o que for mas... Não sou eu. Pode ter sido criação, pode ter sido as companhias mas... Eu não sou esse tipo de garota. Estou com quase 35 anos, uma filha de quase 2 anos, muitas contas para pagar, uma ressaca moral empreendedora difícil de digerir, uma mudança de carreira desejada e inevitável (mas ainda não executada da maneira correta), muita louça na pia, muita roupa na fila da máquina, muita tralha armazenada ao estilo acumuladores etc. Eu escuto minhas bandas mainstream com discos lançados há anos como se tivessem sido lançados ontem (Franz Ferdinand, você sabe que é de você que estou falando), assisto blockbusters, como bolacha maisena e tomo café pilão. Quando eu vou dar pipoca pra minha filha, eu dou em um pote de margarina -- eu não crio potes customizados de produtos reciclados pintados de gatinhos ou whatever... Eu faço diário em caderno da Tilibra, cozinho arroz, feijão e ovo frito. Não tem glamour pessoal, não tem glamour... E digito isso de dentro do meu roupão da Zelo.
Então eu não sei se tem lugar pra mim por aí nesse ramo... Se tem uma ilustradora/rabiscadora/pintora com mais de 27 anos e não glamourosa por aí, ou ela morreu ou achou melhor se exilar do convívio internético. O mundo e o mercado está dominado por fadas que pintam aquarelas com a água do seu banho de bolhas de sabão... Não tem lugar para mulheres descabeladas que chegam exaustas ao final da noite e tem que escolher entre rabiscar e lavar louça.
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